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Futebol de 5 e de 7

FUTEBOL DE 5

O Futebol de 5 é destinado exclusivamente a pessoas com deficiência visual, parcial ou total. Sendo assim, a história da modalidade no Brasil se confunde com os primeiros institutos voltados para cegos no país. Nos anos 1950, três instituições se destacavam nesse cenário. No Rio de Janeiro, o Instituto Benjamin Constant. Em Minas Gerais, o Instituto São Rafael, este o primeiro a ser fundado no Brasil, em 1926. E em São Paulo, o Instituto Padre Chico. Seu ano de fundação foi 1928, em maio, mais precisamente. Em 1929 chegaram as primeiras Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, freiras, para a direção interna do Instituto, dando início às primeiras atividades com trabalhos manuais e ensino do Sistema Braille. E em 1930 teve início a escola, no sistema de internato.

Como qualquer instituição, a Padre Chico foi se transformando durante as décadas que se sucederam. Do caráter eminentemente assistencialista do início, passou a evoluir juntamente com a sociedade. Porém, nos anos 1950, a prática esportiva para cegos era muito pouco difundida, a mentalidade naquela época ainda era de preconceito, vendo a pessoa com deficiência como alguém com limitações, esquecendo-se de suas potencialidades. Portanto, relatos históricos afirmam que as primeiras atividades esportivas para cegos partiram deles mesmos. “Muitos cegos ouviam futebol pelo rádio, eram apaixonados pela modalidade, mas não existia ninguém para ensinar. Os primeiros relatos de jogos de futsal (na época chamado de futebol de salão) entre cegos atestam que as partidas eram disputadas com tampas de lata. O barulho da tampa era o direcionamento de que necessitavam para sua diversão.

Essa prática era comum no Instituto Padre Chico. E sua importância histórica é tremenda, já que foram essas iniciativas que acabaram levando o Brasil a ser potência mundial em modalidades voltadas para cegos décadas depois”, explica o professor Mario Sérgio Fontes, primeiro brasileiro cego a se formar em Educação Física no Brasil (Fontes é formado pela Universidade Federal do Paraná) e com profunda ligação com o paradesporto para pessoas com deficiência visual no país desde os anos 1980. Um aspecto importantíssimo, que ajudou na consolidação do Futebol de 5 no país, foi a evolução da bola. Em 1960, apareceu a primeira bola adaptada. Era uma bola de couro, de capotão, que, quando esvaziada, permitia a realização de dois furos, entre o couro da bola e sua câmara interna. Nesses furos, era transpassado um arame, repleto de tampinhas de refrigerantes, como um varal. Longe do ideal, também produzia sons que orientavam os jogadores. Em 1978, outra evolução, agora com rebites sendo colados nos gomos das bolas. Somente nos anos 1980 é que começou a fabricação de bolas com guizos internos, como as que vemos atualmente.

Um pouco antes disso, em 1974, foi realizada a primeira competição de futsal para pessoas com deficiência visual, com equipes de São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Em 1979, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social organiza suas primeiras olimpíadas e inclui o futsal para cegos entre as modalidades. Em 1980, de forma inédita, a modalidade foi incluída nas olimpíadas das APAEs, sendo nessa oportunidade as primeiras partidas jogadas com o guizo interno nas bolas. Nesse mesmo ano começa a aparecer um movimento nacional para organizar o desporto para cegos no Brasil. “Em 1981 foi fundada a Associação Brasileira de Desporto para Cegos (ABDC), que em 2010 tornou-se a Confederação Brasileira de Desporto de Deficientes Visuais (CBDV), que regula as modalidades voltadas às pessoas com deficiência visual pelo Brasil. A criação da ABDC foi um marco, passamos a ter campeonatos mais bem organizados, expansão para outros estados da Federação. Em 1990, foi implantado o projeto “Pintando a Liberdade”, no Paraná, em que presidiários começaram a fabricar bolas com guizos.

O programa chegou a exportar bolas para 110 países do mundo. Quanta diferença das latas dos anos 1950”, explica Fontes. Na evolução da modalidade no estado de São Paulo, duas entidades se destacam. O Centro de Apoio ao Deficiente Visual (CADEVI), fundado em 1984, e ainda o Centro de Emancipação Social e Esportiva de Cegos (CESEC), fundado em 1985, ambos na capital. O CESEC foi fundado por um grupo de pessoas com deficiência visual, que buscava a integração por meio do esporte. A primeira modalidade introduzida foi o Futebol de 5, organizado no mesmo ano da fundação. Estabeleceu-se uma relação com o Instituto Padre Chico, crianças que estudavam na instituição passaram a frequentar o CESEC. Naquela época foi firmado um convênio com o Clube Democrático, localizado no bairro do Ipiranga (zona sul da capital paulista), que cedeu a quadra para os primeiros treinamentos. “Fizemos um acordo, a quadra era cedida de graça. Montamos dois times e começamos os treinamentos”, diz Irineu Itiro, fundador do CESEC e seu atual presidente. Logo o time deslanchou e em 1986 e 1987, foi vice-campeão brasileiro da modalidade. Em 1991 e 1996, dois campeonatos nacionais, pondo o CESEC definitivamente em destaque no paradesporto nacional. Desde a fundação, mais de cem atletas passaram pelo clube, além de originar outras entidades, formadas por fundadores dissidentes. Existe um trabalho de base com crianças entre 6 e 12 anos, além da formação dos times adultos. Toda a estrutura é fornecida às crianças, com médico, treinadores, equipamento, alimentação e transporte. Atualmente os treinamentos são no Centro Educacional da Mooca (zona leste de São Paulo), em outro convênio firmado pelo CESEC. O CADEVI também possui ótima estrutura até os dias de hoje, porém parou com as atividades relacionadas às modalidades paralímpicas (ver capítulo Judô). Mesmo assim, é inegável sua colaboração histórica para a modalidade, basta ver que já em 1985 participou dos Jogos Sul-Brasileiros para atletas com deficiência visual e ainda dos Jogos Regionais Leste, onde se tornou vice-campeão da competição.

O CADEVI participou de campeonatos de Futebol de 5 até 2000, com destaque para cinco vice-campeonatos nacionais (1986, 1987, 1992, 1996 e 1998). No ano de 1998, inclusive, participou do Mundial de Clubes da categoria, que aconteceu em Paulínia (interior de São Paulo). O trabalho realizado na capital rendeu frutos e hoje cidades como Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos passaram a ter times de Futebol de 5 também. No Brasil, os campeonatos regionais e nacionais organizados pela ABDC proliferaram a modalidade pelos quatro cantos do país. Destaque para os estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais e Espírito Santo. Em 1988, aconteceu nossa primeira participação em um torneio internacional, na Espanha. Na década de 1990 e no início do século 21, um boom fez com que o Futebol de 5 viesse a se tornar, nos anos seguintes, a mais bem-sucedida modalidade paralímpica no país, com três ouros em paralimpíadas, além de um tetracampeonato mundial, sendo que o primeiro desses títulos veio em 1998, quando o Mundial foi disputado no Brasil. Esse sucesso também se deve à maior exposição da modalidade na mídia, tornando-a cada vez mais conhecida.

O FUTEBOL DE 5 NO MUNDO

Não se tem ideia exata de quando o Futebol de 5 começou a ser praticado pelo mundo, mas o que se sabe é que ele nasceu em escolas, num modelo muito parecido com o do Brasil, sendo praticado por crianças com deficiência visual, como uma alternativa para o lazer e a socialização. Somente em 1996 ele foi incorporado pela International Blind Sports Federation (IBSF) e em 1997, foi disputado o primeiro campeonato europeu da modalidade. No ano seguinte, em 1998, o primeiro mundial, no Brasil, onde começamos a mostrar nossa total hegemonia. O Futebol de 5 estreou em paralimpíadas em 2004, Atenas.

O BRASIL NOS JOGOS

Simplesmente 100% de aproveitamento! Três paralimpíadas, três ouros! Na estreia em 2004, a decisão foi contra os rivais argentinos. A Seleção ficou com o topo do pódio ao bater os sul-americanos por 3 a 2. Na edição seguinte, em Pequim, a briga pela láurea dourada se deu contra os donos da casa. Em partida disputada, o Brasil ficou com o bicampeonato ao batê-los por 2 a 1. A hegemonia verde e amarela seria consolidada quatro anos mais tarde, nos Jogos Paralímpicos de Londres. A terceira conquista consecutiva ocorreu após o triunfo por 2 a 0 sobre os franceses, em jogo na capital britânica.

FICHA TÉCNICA

Como é disputado: O futebol de 5 é exclusivo para cegos ou pessoas com deficiência visual. As partidas normalmente são em uma quadra de futsal adaptada, mas desde os Jogos Paralímpicos de Atenas também têm sido praticadas em campos de grama sintética. O goleiro tem visão total e não pode ter participado de competições oficiais da Fifa nos últimos cinco anos. Junto às linhas laterais, são colocadas bandas que impedem que a bola saia do campo. Cada time é formado por cinco jogadores – um goleiro e quatro na linha. Diferentemente de um estádio convencional de futebol, as partidas de futebol de 5 são silenciosas, em locais sem eco. A bola tem guizos internos para que os atletas consigam localizá-la. A torcida só pode se manifestar na hora do gol. Cada jogador usa uma venda nos olhos e, se tocá-la, cometerá uma falta. Com cinco infrações, o atleta é expulso de campo e pode ser substituído por outro jogador. Há ainda um guia, o chamador, que fica atrás do gol, para orientar os jogadores, e que diz onde devem se posicionar em campo e para onde devem chutar. O jogo tem dois tempos de 25 minutos e intervalo de 10 minutos. No Brasil, a modalidade é administrada pela CBDV.

Classificação: Em Jogos Paralímpicos, esta modalidade é exclusivamente praticada por atletas da classe B1 (cegos totais) que não têm nenhuma percepção luminosa em ambos os olhos; ou têm percepção de luz, mas com incapacidade de reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância ou direção.

Os atletas são divididos em três classes que começam sempre com a letra B (blind, cego em inglês).

•   B1: Cego total: de nenhuma percepção luminosa em ambos os olhos até a percepção de luz, mas com incapacidade de reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância ou direção.

•   B2: Jogadores já têm a percepção de vultos. Da capacidade em reconhecer a forma de uma mão até a acuidade visual de 2/60 e/ou campo visual inferior a 5 graus.

•  B3: Os jogadores já conseguem definir imagens. Da acuidade visual de 2/60 a acuidade visual de 6/60 e/ou campo visual de mais de 5    graus e menos de 20 graus.

FUTEBOL DE 7

Apesar de o Futebol de 7, destinado a homens com paralisia cerebral, ter nascido na Escócia em 1978, foi somente 10 anos depois, em 1988, logo após a paralimpíada de Seul, que ele começou a ser praticado no Brasil. O pioneiro nessa iniciativa foi Ivaldo Brandão Vieira, carioca envolvido com o paradesporto desde 1982 e com forte ligação com a Associação Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE), instituição na qual trabalha desde os anos 1980 e da qual foi presidente entre 2001 e 2013. Atualmente, Ivaldo é o vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). “Fomos para a paralimpíada de Seul com a ideia de trazer novas modalidades paralímpicas para o país. Havia uma demanda muito forte relacionada com o futebol. No evento, tive mais contato com a modalidade e resolvemos introduzi-la por aqui”, explica Brandão.

Começou praticamente do zero, envolvendo a própria ANDE, além da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef) e o próprio Clube do Otimismo, uma das instituições pioneiras no paradesporto no Brasil, também situada no Rio de Janeiro. “Não havia praticantes, simplesmente. Começamos a buscar pessoas com paralisia cerebral que pudessem exercer a modalidade, fosse por puro lazer e para ajudar na reabilitação, fosse para formar atletas de alto rendimento. Nós sempre tivemos a ideia de que era possível montar uma seleção forte, apoiada em uma boa estrutura. Sendo assim, procuramos primeiro entidades do Rio de Janeiro. Depois, passamos a procurar outras entidades pelo país”. Foi dentro desse contexto que Brandão conheceu o professor e doutor João Gilberto Carazzato, em um seminário esportivo no início dos anos 1990. O paulistano Carazzato era, à época, chefe do Departamento de Paralisia Cerebral do Hospital das Clínicas (HC), localizado na capital paulista. “Brandão soube por intermédio de outras pessoas do trabalho que desenvolvíamos no HC, para crianças com paralisia cerebral. Nós conversamos e passamos a interagir, mesmo que à distância. Foi dessa forma que o HC, e posteriormente outras entidades paulistas, começaram a colaborar com o Futebol de 7”, fala Carazzato. A importância do trabalho de Carazzato é tão grande, que transpõe o universo do paradesporto, tema principal desta publicação. Foi em 1978 que ele introduziu, de forma pioneira no país, a terapia esportiva para pessoas com paralisia cerebral, especialmente para crianças. É dele também a iniciativa da criação da cadeira de Medicina Esportiva, na Faculdade de Medicina de São Paulo (USP). “Recebíamos muitas crianças no HC, a maioria delas com comprometimentos sérios. E não falo apenas das deformidades físicas que porventura pudessem existir, mas também do aspecto psicológico. Meninos e meninas chegavam agarrados à mãe, não tinham autonomia quase que nenhuma. O procedimento era sempre o mesmo.Fazíamos uma avaliação do quadro e, quando necessário, intervenções cirúrgicas eram realizadas. Depois disso, começava-se o período de recuperação. Foi nessa etapa que decidimos incluir modalidades esportivas como elemento primordial no tratamento dessas crianças. E ainda fizemos um intercâmbio profícuo com a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) nesse sentido”, explica Carazzato. Corridas, arremesso de peso, basquetebol, handebol, queimada e futsal eram as atividades praticadas pelas crianças, muitas delas morando na periferia de São Paulo, e que chegavam ao HC por volta das 7 da manhã. “Era um grande sacrifício, tanto para a mãe, como para o filho. Imagine a que horas tem que acordar alguém que mora a mais de trinta quilômetros de distância de um lugar, para chegar logo pela manhã ao local pretendido”, diz Carazzato. Ao final do ano, uma olimpíada é realizada. Esse modelo apresentado permanece até hoje, são 38 edições das olimpíadas para atletas com paralisia cerebral no HC. Os benefícios são inúmeros, como explica o doutor Carazzato. “Temos a melhora no aspecto psicológico, progressos na condição cardiovascular como um todo, do sistema respiratório também, evolução significativa da coordenação motora, diminuição dos déficits funcionais dos membros afetados, reflexos mais rápidos e prevenção de fraturas. Além da socialização, da introdução ao conceito de competição, disciplina e companheirismo, tudo vem junto”. Seus trabalhos de mestrado e doutorado são intimamente ligados ao tema, o primeiro estabelecendo um teste de avaliação do quadro do atleta com paralisia cerebral e o segundo, uma revolução cirúrgica. “Fomos os primeiros no mundo a fazer operações simultâneas de joelho, quadril e pé, em ambos os lados do corpo. Antigamente eram seis intervenções separadas e dois anos de recuperação. Hoje temos uma única intervenção e um ano de recuperação”, explica Carazzato. Milhares de crianças foram atendidas nesses 38 anos, muitas delas alcançaram a faculdade, o mercado de trabalho, têm uma vida com qualidade. E muitas delas mostraram talentos para esportes, especialmente o futsal. Da relação entre Carazzato e Brandão, formou-se um time de futsal do HC e, posteriormente, um time de Futebol de 7, que se deslocou ao Rio em meados dos anos 1990, para participar de um dos primeiros campeonatos brasileiros da categoria. Nessa época, o cenário nacional já era bem diferente, graças aos esforços de Brandão e outros abnegados.

O Brasil já havia participado de uma paralimpíada na modalidade, em Barcelona 1992 e o Futebol de 7 se expandia. No estado de São Paulo, além da capital, Santos (litoral sul paulista), Suzano e Mogi das Cruzes (ambas no interior) começaram a vivenciar a experiência de formar times. Outros estados também adotaram a prática, destaque hoje para o pioneirismo do Rio de Janeiro, e o desenvolvimento posterior em São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Paraná. Porém, atualmente, a modalidade está presente em quase todos os estados da Federação, muito pela sua inclusão nos Jogos Paradesportivos Escolares, em que participam milhares de escolas por todo o país, evento esse organizado pelo CPB.

Hoje existem campeonatos estaduais e nacionais, sendo que esse possui duas divisões, com 8 clubes na primeira e 6 na segunda. “Outro fator determinante para o crescimento do Futebol de 7 foi a Lei Piva e o repasse de verbas para a Confederação Brasileira de Clubes (CBC). Parte dessa verba precisa, necessariamente, ser usada em alguma modalidade paralímpica. Times como Corinthians e Santos, em São Paulo, e Botafogo e Vasco da Gama, no Rio, montaram times de Futebol de 7, dando ainda mais visibilidade ao esporte”, explica Brandão, que considera grandes as chances de medalha do Brasil, em 2016. Um dos membros da seleção brasileira foi beneficiado com a entrada de grandes clubes na modalidade. Evandro de Oliveira, 25 anos, nasceu em Santo André (SP) com paralisia cerebral. Suas sequelas eram mais aparentes no braço direito, mas isso não o impediu de jogar futebol desde moleque. “Sempre joguei bola, tive uma infância sem muitas restrições”, afirma Evandro. Depois, mudou-se para Poá (interior de São Paulo), onde começou a disputar campeonatos de várzea. Um observador viu sua qualidade técnica como jogador e quando soube que tinha paralisia cerebral, imediatamente convidou Evandro para um teste na equipe de Futebol de 7 do SESI/Suzano. Fez o teste e foi aceito, isso no ano de 2012. Pelo time, conquistou o campeonato brasileiro da série B e foi o artilheiro da competição. Nesse mesmo ano de 2012, veio a primeira convocação para a Seleção Brasileira, onde atua até hoje, como ala e atacante. Suas atuações chamaram a atenção do Vasco da Gama (RJ) e Evandro acabou se transferindo para lá no final de 2013. “Para mim foi uma grande alegria poder vestir a camisa de um grande clube do futebol nacional. Graças a Deus tudo vem dando certo, fui bicampeão brasileiro com a equipe do Vasco da Gama, em 2014 e 2015, e campeão do Rio-São Paulo em 2016”, fala o atleta. Na seleção também conquistou muitos títulos, com destaque para o terceiro lugar no Mundial na Inglaterra em 2015, e a conquista que considera a mais importante até agora, dos jogos Parapanamericanos em Toronto (Canadá) em que foram campeões invictos, trazendo a medalha de ouro para o Brasil. Sobre os treinos para o Rio 2016, Evandro diz que todos os meses uma etapa é realizada, cada qual em cidades diferentes pelo país. “Os treinos são muito fortes, mas cada segundo vale a pena. Meu pensamento e o dos meus companheiros é trazer a inédita medalha de ouro”.

O FUTEBOL DE 7 NO MUNDO

Em 1978 surgiu o futebol de 7 para atletas com paralisia cerebral. Foi na cidade de Edimburgo, na Escócia, que aconteceram as primeiras partidas. A primeira paralimpíada em que a modalidade esteve presente foi em Nova York, em 1984. Naquela ocasião, a Bélgica ficou com a medalha de ouro, batendo a Irlanda na final por 1 a 0. Seis times participaram da primeira edição. Em Londres 2012, foram oito times, com as principais forças ocupando o pódio: Rússia, Ucrânia e Irã.

CURIOSIDADE PARALÍMPICA

A semifinal paralímpica de 2004 pôs frente a frente os dois maiores rivais do futebol mundial, Brasil e Argentina. O resultado foi fantástico para nós, uma goleada por 4 a 1. Porém, como já ocorreu muitas vezes em jogos entre os dois países, uma briga generalizada aconteceu. O zagueiro Leandro Marinho, o meio-campista Flávio Dino e o atacante Luciano Rocha participaram do conflito e foram expulsos aos 28 minutos do segundo tempo, quando o placar apontava 4 a 0 para o Brasil. O jogo continuou, o Brasil com 4 jogadores e a Argentina com seis, só Mario Sosa foi expulso do lado dos “hermanos”. Mesmo em desvantagem numérica, o Brasil soube segurar a vantagem, sofrendo um gol apenas. Porém, os desfalques foram sentidos na final, especialmente de Luciano Rocha, considerado na época o principal jogador de Futebol de 7 do mundo. Na decisão do ouro fomos goleados pela Ucrânia pelo mesmo placar do jogo contra a Argentina, 4 a 1.

O BRASIL NOS JOGOS PARALÍMPICOS

Em Barcelona 1992, o Brasil estreou nos Jogos Paralímpicos e ficou em sexto lugar. Na Paralimpíada de Atlanta 1996, a seleção brasileira ficou em penúltimo lugar na classificação geral. Quatro anos depois, em Sidney, virou o jogo e conquistou o terceiro lugar geral. Nos Jogos Paralímpicos de Atenas 2004, o Brasil se superou mais uma vez e conquistou a medalha de prata, deixando para trás potências como a Rússia, Estados Unidos e Argentina. Nas duas últimas paralimpíadas o Brasil terminou na quarta colocação.

FICHA TÉCNICA

Descrição: O futebol de 7 é praticado por atletas do sexo masculino, com paralisia cerebral, decorrente de sequelas de traumatismo cranioencefálico ou acidentes vasculares cerebrais. As regras são da FIFA, mas com algumas adaptações feitas pela Associação Internacional de Esporte e Recreação para Paralisados Cerebrais (CP-ISRA). O campo tem no máximo 75m x 55m, com balizas de 5m x 2m e a marca do pênalti fica a 9,20m do centro da linha de gol. Cada time tem sete jogadores (incluindo o goleiro) e cinco reservas. A partida dura 60 minutos, divididos em dois tempos de 30, com um intervalo de 15 minutos. Não existe regra para impedimento e a cobrança lateral pode ser feita com apenas uma das mãos, rolando a bola no chão. Os jogadores pertencem às classes menos afetadas pela paralisia cerebral e não usam cadeira de rodas. No Brasil, a modalidade é administrada pela Associação Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE).

Classificação: Os jogadores são distribuídos em classes de 5 a 8, de acordo com o grau de comprometimento físico. Quanto maior a classe, menor o comprometimento do atleta. Durante a partida, o time deve ter em campo no máximo dois atletas da classe 8 (menos comprometidos) e, no mínimo, um da classe 5 ou 6 (mais comprometidos). Os jogadores da classe 5 são os que têm o maior comprometimento motor e, em muitos casos, não conseguem correr. Assim, para estes atletas, a posição mais comum é a de goleiro. Vale lembrar que a paralisia cerebral compromete de variadas formas a capacidade motora dos atletas, mas, em cerca de 45% dos indivíduos, a capacidade intelectual não é comprometida.