Vôlei Paralímpico
Desde os anos 1990, o voleibol paralímpico recebia atenção dos profissionais que trabalhavam com o esporte adaptado no Brasil. De acordo com a professora doutora Elisabeth de Mattos, que posteriormente auxiliou na tradução das regras e normas do voleibol paralímpico, eram ministradas palestras e apresentação de vídeos sobre a modalidade, mas nunca houve efetivamente sua iniciação.
Mas, em 2002, por um descuido, um apaixonado pelo voleibol convencional descobriu o voleibol paralímpico. “Na época eu trabalhava na instituição TRADEF – Trabalho de Apoio ao Deficiente, em Mogi das Cruzes, com o esporte adaptado. Estava há um tempo afastado do voleibol convencional e fui procurar um site sobre o assunto. Por um erro de digitação, acabei encontrando o site da entidade internacional de voleibol para atletas com deficiência. Foi uma novidade para mim e naquele momento decidi que iria desenvolver aquela modalidade”, conta Ronaldo Gonçalves de Oliveira, precursor do voleibol paralímpico no Brasil e atualmente orientador de esporte de rendimento paralímpico do Sesi SP, além de técnico do time feminino de voleibol paralímpico do Sesi Suzano.
Mesmo sem dominar o inglês, o professor encarou o desafio e percebeu, pelas fotos de partidas e da modalidade, que poderia implantar o voleibol paralímpico. “Como se tratava de uma modalidade em que a pessoa com deficiência devia retirar sua prótese para jogar, no início houve certa dificuldade e resistência por parte dos atletas. Mas, por outro lado, o fato de necessitar de poucos implementos garantia maior possibilidade de sucesso”, avalia Ronaldo. Ele lembra que no começo estavam envolvidos apenas ele e o professor Alexandre Medeiros, de São Gonçalo, Rio de Janeiro.
Em 15 de novembro de 2002 foi realizado o primeiro torneio de voleibol paralímpico, em Mogi das Cruzes, com a participação de três equipes – TRADEF, Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP) e Associação Brasileira de Desporto para Amputados (ABDA), de Niterói.
Com o sucesso do torneio, Ronaldo procurou o Comitê Paralímpico Brasileiro, que por sua vez apoiou financeiramente a realização, em maio de 2003, do primeiro Campeonato Brasileiro de Voleibol Paralímpico. Participaram sete equipes masculinas: TRADEF (Mogi das Cruzes/SP), CPSP (São Paulo/SP), ADDESOVI (São Vicente/SP), ANDEF (Niterói/RJ), APARU (Uberlândia/MG), CEMDEF (São Paulo), AMDEFUVE (União da Vitória/PR), tendo como resultado: 1º ANDEF, 2º ADDESOVI e 3º CPSP. As jogadoras tiveram seu primeiro campeonato em 2004.
Na ocasião, a convite dos organizadores do campeonato, o representante da Organização Mundial de Voleibol para Deficientes (WOVD) para as Américas, Mike Migdesian, veio ao Brasil e observou os atletas brasileiros. E, desta competição, foram convocados os jogadores da primeira Seleção Brasileira de Voleibol Paralímpico, que teve no Parapanamericano de Mar del Plata, na Argentina, em dezembro de 2003, sua estreia internacional já como vice-campeã da modalidade.
Pouco mais de um mês antes do campeonato, a modalidade ganhava sua entidade nacional. João Batista Carvalho e Silva, fundador do Comitê Paralímpico Brasileiro e dirigente do paradesporto, criou a Confederação Brasileira de Voleibol para Deficientes (na época batizada de Associação Brasileira de Voleibol Paraolímpico) em 7 de abril de 2003, ocorrendo a filiação internacional a WOVD e ao CPB.
Passados 14 anos, os números comprovam a gigante evolução do voleibol paralímpico no Brasil. Hoje são 35 entidades filiadas de 14 estados, cerca de 544 atletas em 27 equipes masculinas e 8 femininas. Quando o assunto são títulos conquistados, a lista também é grande. A seleção masculina é tricampeã em Parapanamericanos (2007, 2011 e 2015).
Em Paralimpíadas a medalha ainda não veio, mas os treinamentos estão sendo realizados mensalmente e um calendário de competições internacionais será cumprido até agosto. “Conseguimos um resultado muito significativo no Torneio Intercontinental na China, considerando que enfrentamos equipes que estarão nos Jogos do Rio. Trouxemos de lá a prata no masculino e o bronze com a seleção feminina. Estamos treinando para subir ao pódio no Brasil”, afirma o presidente da CBVD, Amauri Ribeiro.
Ex-jogador e medalhista da Seleção Brasileira de Voleibol, Amauri conheceu a modalidade em 2004, num evento realizado no Centro Olímpico, em São Paulo. Desde então, vem contribuindo para a profissionalização e desenvolvimento do voleibol paralímpico. Foi técnico voluntário do Projeto Próximos Passos, do Instituto Mara Gabrilli, e técnico da seleção brasileira de 2004 a 2009, quando assumiu a presidência da entidade.
No cenário nacional, o estado de São Paulo é protagonista. Das 13 edições do Campeonato Brasileiro, apenas em três ocasiões os vencedores não foram instituições paulistanas. O fortalecimento do esporte ganhou reforço com a criação da Federação Paulista de Voleibol Paralímpico, em 2014. “É uma evolução natural do esporte e a tendência é que sejam criadas novas federações à medida que o número de equipes por estados ou regiões cresça e se faça necessária uma gestão melhor”, avalia Amauri.
O Campeonato Paulista da modalidade reúne cerca de 10 equipes, sendo disputado em etapas ao longo do ano. Um dos fundadores e atual vice-presidente da entidade estadual, Renato Leite é um dos jogadores que estiveram em quadra no primeiro torneio da modalidade. Com a camisa da seleção brasileira ele é o atleta com maior número de jogos – mais de 500 partidas.
Atleta do Clube Paineiras, o jogador praticava atletismo antes de conhecer o voleibol paralímpico. “Não me destacava no atletismo porque não tinha uma boa prótese. No voleibol não preciso de equipamento, somente da minha condição técnica, física e tática”, conta Renato.
Sobre a expectativa para os Jogos no Rio 2016, o jogador eleito o melhor líbero do mundo não esconde a emoção. “Será fantástico. Tive a oportunidade de jogar o Panamericano Rio 2007 e é muito diferente e emocionante jogar perto dos familiares e da torcida”.
O Voleibol paralímpico no Mundo
A modalidade surgiu em 1956, na Holanda, a partir da combinação entre o voleibol convencional e o Sitzbal (esporte alemão que não tem a rede, praticado por pessoas com mobilidade limitada e que jogam sentadas). A partir de 1967, o voleibol paralímpico passou a ter torneios internacionais, sendo aceito como uma modalidade paralímpica em 1978. Em 1980, a modalidade foi incluída no programa de competições dos Jogos Paralímpicos em Arnhem, Holanda, com a participação de sete seleções. Desde 1993 ocorrem campeonatos mundiais da modalidade (masculino, feminino e sub-21), regidos pela Organização Mundial de Voleibol para Deficientes (WOVD). Atualmente, o voleibol paralímpico é praticado por mais de 10 mil atletas em mais de 55 países em todo o mundo, de acordo com a WOVD. Nos últimos Jogos Paralímpicos, em Londres 2012, 198 atletas competiram na modalidade.
O Brasil em Paralimpíadas
O Brasil estreou na disputa nos Jogos em Pequim 2008 apenas com a seleção masculina, que terminou o torneio em 6º lugar. Em Londres 2012 o Brasil teve representantes nos dois gêneros, e em ambos ficou em 5º lugar.
Curiosidade Paralímpica
Até as paralimpíadas de Sidney 2000, o esporte consistiu em duas disciplinas: voleibol em pé e sentado. No entanto, a partir dos Jogos em Atenas 2004, passou a ser disputado apenas com atletas sentados. Foi também em 2004 que as mulheres passaram a disputar a modalidade nos Jogos Paralímpicos.
Ficha técnica
Descritivo: No voleibol paralímpico podem competir amputados, principalmente dos membros inferiores; atletas com paralisia cerebral; lesionados na coluna vertebral; e pessoas com outros tipos de deficiência locomotora (sequelas de poliomielite, por exemplo). As regras seguem às da modalidade convencional, regidas pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB), com algumas adaptações aplicadas pela Organização Mundial de Voleibol para Deficientes (WOVD): os atletas jogam sentados e o contato com o chão deve ser mantido em toda e qualquer ação, sendo permitido perdê-lo somente nos deslocamentos. Outra adaptação é a permissão para bloquear e atacar o saque.
Já a disputa é muito semelhante à do voleibol convencional. Seis jogadores de cada equipe ficam em quadra e o jogo é dividido em cinco sets (quatro de 25 pontos e um tie-break de 15 pontos). O vencedor do set é a equipe que atingir a pontuação máxima (25 ou 15 pontos) com pelo menos uma vantagem de 2 pontos sobre o adversário. Ganha a partida a equipe vencedora de três sets.
Adaptações: O tamanho da quadra e altura da rede do voleibol paralímpico são inferiores à modalidade convencional. A quadra mede 10m x 6m contra 18 x 9m, e a altura da rede tem cerca de 1.15m do solo no masculino e 1.05m no feminino. A quadra se divide em zonas de ataque e defesa, sendo permitido o contato das pernas de jogadores de um time com os do outro, porém não podem obstruir as condições de jogo do oponente.