Halterofilismo
O ano era 1994 e o paulistano Alexsander Whitaker disputaria as provas de natação do Campeonato Regional que era realizado em Porto Alegre (RS). Até então nadador do Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP), foi convidado para participar de uma prova de levantamento de peso e saiu da competição como vice-campeão. “Antes do acidente eu era judoca e naquela época a maioria dos atletas começava na natação. Por meu porte físico, me convidaram para a prova de levantamento e fui, sem muita expectativa. Depois do resultado, deixei a natação e passei a me dedicar ao halterofilismo”, recorda o atleta que perdeu os movimentos da perna em 1993 ao ser baleado durante um assalto.
Primeiro atleta do estado de São Paulo a se destacar na modalidade, Alexsander conta que no início o halterofilismo era praticado por pouquíssimos atletas e muito mais por gosto pela musculação, sem profissionalização ou foco em rendimento. “Por meu passado de esportista e minha formação em nutrição esportiva, acionei conhecidos que já trabalhavam com o esporte e os levei ao paradesporto. Desta forma, começamos a profissionalizar o halterofilismo no Estado”.
A falta de estrutura e recursos financeiros iniciais exigia dos profissionais da área e atletas que fizessem pedágios nos faróis da cidade de São Paulo para conseguir verba para as viagens e participação em campeonatos. Mesmo com esses desafios, Alexsander garantiu vaga para os Jogos Paralímpicos de Sidney 2000, junto com os potiguares João Euzébio e Terezinha Mulato, e desde então tem participado de todas as edições. Antes, somente o carioca Marcelo Motta havia representado o Brasil na competição, nas Paralimpíadas de Atlanta 1996.
Se a medalha paralímpica não veio (por muito pouco, pois em Atenas 2004 ficou na quarta colocação levantando 180kg), no currículo do halterofilista estão os títulos de bicampeão mundial nos Jogos Mundiais de Cadeira de Rodas 2003, na Nova Zelândia, e 2005 no Rio de Janeiro, e medalha de ouro no Parapanamericano do Rio 2007, além de campeão brasileiro por 15 anos consecutivos. Na época, a entidade responsável pela modalidade era a ABRADECAR – Associação Brasileira de Desporte em Cadeira de Rodas. Atualmente, o halterofilismo é administrado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro.
O cenário atual do halterofilismo é muito diferente. E, pela avaliação de Alexsander, os incentivos do governo federal, como bolsa-atleta e bolsa-pódio, foram grandes motivadores para a difusão da modalidade. “Muitos atletas migraram de modalidade ao perceber que tinham mais chances de receber o benefício, uma vez que o número de halterofilistas era menor”. Para receber o bolsa-atleta, os atletas precisam atender requisitos como estar entre as primeiras colocações de competições internacionais ou integrar a seleção brasileira de sua modalidade.
Em relação ao número de praticantes do Estado, na última edição do Troféu Sérgio Del Grande, tradicional festival do estado de São Paulo, participaram 30 atletas, entre homens e mulheres, das provas de halterofilismo. E já despontam outros atletas paulistas com destaque internacional, como Evanio Rodrigues, da cidade de Indaiatuba, que foi ouro no Parapanamericano de Toronto 2015 ao levantar 190kg na categoria até 88kg, e classificado para os Jogos Paralímpicos Rio 2016; e Bruno Carra, da categoria até 54kg e natural de Salto, também com vaga garantida para as paralimpíadas.
“Eu competia com atletas sem deficiência até conhecer, através de um amigo, a modalidade paralímpica. Quando eu soube da possibilidade de participar de uma paralimpíada, me motivei ainda mais e passei a competir com atletas com deficiência. Com a vaga para o Rio 2016, estou treinando para melhorar minhas marcas e garantir uma boa colocação”, afirma Evanio.
O Halterofilismo no Mundo
O halterofilismo estreou nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 1964, com apenas quatro categorias, e podiam disputar a competição somente atletas com lesão medular. O interesse pelo esporte cresceu rapidamente. Nos Jogos de Barcelona 1992, 25 países participaram das competições de halterofilismo. Já em Atlanta 1996, o número mais que dobrou, com representantes de 58 países. A participação das mulheres aconteceu somente a partir de 2000, nas Paralimpíadas de Sidney, tendo a maioria das campeãs vindas da África e Ásia. A modalidade, uma das nove administradas pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), é praticada atualmente em mais de 100 países, nos cinco continentes.
O Brasil em Paralimpíadas
O Brasil estreou na modalidade nos Jogos de Atlanta 1996. Desde então o país possui representantes no halterofilismo. Mas, até hoje nenhum atleta brasileiro conquistou medalhas em Jogos Paralímpicos.
Curiosidade Paralímpica
Nos Jogos de Londres 2012, o iraniano Siamand Rahman quebrou o recorde da história das paralimpíadas ao levantar um peso de 280 kg. Entre as mulheres, a chinesa Ruifang Li conquistou o ouro em Pequim 2008 ao levantar o maior peso registrado da competição: 165 kg.
FICHA TÉCNICA
Descritivo: Competem atletas amputados, e outros com limitações mínimas, atletas das classes de paralisia cerebral e atletas das classes de lesões na medula espinhal. Eles permanecem deitados em um banco e executam o movimento conhecido como supino. A prova começa no momento em que a barra de apoio é retirada (com ou sem ajuda do auxiliar central), deixando o braço totalmente estendido. O atleta flexiona o braço descendo a barra até a altura do peito. Em seguida, elevam-na até a posição inicial, finalizando o movimento. O atleta pode realizar o movimento três vezes, sendo o maior peso validado.
Classificação: Única modalidade em que os atletas são categorizados por peso corporal, da mesma forma que no halterofilismo olímpico. Os competidores precisam ter a habilidade de estender completamente os braços com não mais de 20 graus de perda nos dois cotovelos para realizar um movimento válido, de acordo com as regras. São 10 categorias femininas e 10 masculinas.