Tênis de mesa
Aconteceram na década de 1970 as primeiras competições regionais e nacionais de tênis de mesa para pessoas com deficiência, promovidas na época pela Associação Nacional do Desporto para Deficientes (ANDE). A instituição foi responsável pela realização dos Jogos Parapanamericanos no Rio de Janeiro, em 2007, tendo o tênis de mesa como umas das modalidades participantes da competição.
Com o desenvolvimento do esporte adaptado no Brasil, surgiram novas associações, como Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas (ABRADECAR), que começaram a organizar seus campeonatos. E dessas competições eram selecionados os atletas que formariam a seleção brasileira de tênis de mesa.
Na estreia do Brasil em Jogos Paralímpicos, em Seul 1988, o paulista Keike Shimomaebara foi um dos três atletas que participaram da competição; repetindo a convocação em Barcelona 1992, mas desta vez sendo o único jogador brasileiro no tênis de mesa.
A criação do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), em 1995, possibilitou uma nova fase do esporte, com a participação dos atletas do tênis de mesa em competições internacionais, sob a responsabilidade do Comitê. Em 2000 foi fundada a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa Adaptado (CBTMA), mas oito anos depois, a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) tornou-se a entidade máxima do desporto após o CPB acolher a decisão da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF), indicando que a CBTM deveria ser a única e exclusiva entidade no Brasil.
A fusão das modalidades olímpica e paralímpica em uma única entidade administrativa trouxe uma mudança radical que, na avaliação da CBTM, proporcionou melhor estrutura nos eventos e contribuiu para o aumento de adeptos, com o surgimento de vários atletas de bom nível e, consequentemente, resultados importantes.
Para a atleta e grande incentivadora da modalidade, Soraia Alvarenga a união das categorias foi um passo importante, e trouxe responsabilidades e obrigações. “Em um mundo cheio de preconceitos e estigmas para enfrentarmos, achei um grande passo para a modalidade e admiro a coragem, pois não foram fáceis as adaptações”, avalia. Usuária de aparelho ortopédico desde 1976, Soraia andava quilômetros quando sabia que havia uma mesa para brincar de pingue-pongue. Mais tarde, em 2004, conheceu o tênis de mesa na reabilitação desportiva.
O envolvimento dela com a modalidade foi além da rotina como esportista. De forma voluntária, foi a responsável por organizar por dois anos consecutivos o Campeonato Paulista Paralímpico, que teve sua primeira edição em 2010. “A competição tinha quatro eventos anuais realizados em variadas cidades dentro do estado de São Paulo”, explica Soraia.
Ela também percebeu que, como atleta, tinha algumas limitações de atuação. Assim, em 2009, Soraia decidiu fundar a Associação em Defesa da Inclusão e Paradesporto dos Portadores de Necessidades Especiais (ADIPPNE), para contribuir também com o incentivo à modalidade. Atualmente como gestora de Esporte Nacional e Internacional – EACH/USP-Leste, é responsável por garimpar novos talentos, ministrar palestras em âmbito escolar e universitário e realizar oficinas em centros comunitários.
Foi em um desses eventos realizados para divulgar a modalidade que a jogadora Cátia Cristina da Silva Oliveira, de Cerqueira César, experimentou o tênis de mesa. Por meio da ajuda de Soraia ela passou a praticar o esporte, e em menos de três anos conquistou duas medalhas nos Jogos Parapanamericanos de Toronto 2015 – ouro no individual e prata em dupla, garantindo vaga para as Paralimpíadas Rio 2016. Além de Cátia, mais seis atletas paulistas representarão o país no evento – Joyce Oliveira (Jundiaí), Paulo Salmim Filho (Jaú), Israel Stroh (Santos), Luis Filipe Guarnieri Manara (Itapetininga), Carlos Carbinatti (Rio Claro) e Jennyfer Parinos (Santos), de um total de 17 jogadores.
A expectativa da CBTM para os Jogos Rio 2016 é conquistar três medalhas. A meta ambiciosa tem uma razão: o desempenho do esporte nos Jogos Parapanamericanos de Toronto 2015, quando o tênis de mesa paralímpico brasileiro fez sua melhor campanha na competição, ao subir ao pódio 31 vezes com 15 medalhas de ouro, 10 de prata e 6 de bronze.
Uma das atletas cotadas para subir ao pódio é Bruna Costa Alexandre, que compete pelo Time São Paulo Paralímpico, parceria entre o governo de São Paulo e Comitê Paralímpico Brasileiro. Terceira melhor do ranking mundial na classe 10, a jogadora competiu em torneios para atletas sem deficiência até 2009, quando recebeu o convite para mudar de categoria.
Aos 6 meses de vida, Bruna teve de amputar o braço direito por consequência de uma trombose provocada por uma injeção mal aplicada.
Influenciada pelo irmão, começou no tênis de mesa aos 7 anos e aos 12 já integrava a seleção olímpica infantil. “Jogar em casa traz muita pressão, mas por outro lado estou treinando bastante para trazer uma medalha para o Brasil”.
O desenvolvimento do tênis de mesa no estado de São Paulo tem sido avaliado de maneira muito positiva. Na avaliação da CBTM, além da consolidação da cidade de Piracicaba como sede da seleção paralímpica andante, o estado vem sendo um dos principais na briga por títulos paralímpicos nas etapas do Circuito Nacional e nos Campeonatos Brasileiros.
No último Campeonato Brasileiro, realizado em 2015, em Lauro de Freitas (BA), dos 134 atletas inscritos, 57 eram do estado de São Paulo. Destaque para o Centro Social Chinês/Superar/Butterfly, de Indaiatuba, que estava representado por 17 jogadores; seguido pela AACD São Paulo e ADIPPNE, ambas com 8 atletas.
Para difundir e fomentar a modalidade no estado, uma das iniciativas da CBTM foi a parceria com a AACD, em 2015, que já utilizava o tênis de mesa como um dos esportes para a reabilitação de crianças e jovens com deficiência física. Professores foram capacitados com cursos específicos de tênis de mesa e também foi cedido material de ponta, tendo como objetivo auxiliar não só na recuperação física, mas também socializar, descobrir e formar novos atletas para o tênis de mesa paralímpico.
Pensando no futuro pós-Jogos Rio 2016, a modalidade parece estar bem encaminhada no estado. Como apontam os números dos Jogos Escolares do Estado de São Paulo (Jeesp), maior competição esportiva escolar do país, o tênis de mesa aparece como a terceira modalidade – dentre 10 oferecidas – com maior número de inscritos, atrás apenas do atletismo e da natação.
O Tênis de Mesa no Mundo
A modalidade, regida pela Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF), está presente nos Jogos desde a primeira edição, em Roma 1960, quando atletas competiram em jogos de simples e duplas, no masculino e feminino. Mas até chegar ao formato atual de disputa, com medalhas nas categorias individual e por equipes no masculino e feminino, o tênis de mesa teve diversas experiências.
Nos Jogos de Heidelberg 1972, foram incluídas as competições por equipe. Já em Arnhem 1980, os atletas só disputaram partidas no individual e por equipes. Em 1984 e 1988, o open entrou no programa. Em Barcelona 1992, as disputas retornaram para individual e equipes, e em Atenas 2004, retornou a competição em duplas.
O Brasil em Paralimpíadas
Desde os Jogos de Atlanta 1996 o país é representado na modalidade. A única medalha brasileira veio nos Jogos de Pequim 2008, com a prata conquistada pela dupla Welder Knaf e Luiz Algacir.
Curiosidade Paralímpica
Um dos esportes mais tradicionais dos Jogos Paralímpicos, o tênis de mesa esteve presente em todas as edições, sendo disputado desde os Jogos de Roma 1960 – 28 anos antes de a modalidade estrear no programa dos Jogos Olímpicos. O tênis de mesa é também um dos esportes que mais distribuem medalhas. Em Londres 2012, por exemplo, 87 medalhas foram conquistadas nessa modalidade.
Ficha técnica
Descritivo: No tênis de mesa participam atletas do sexo masculino e feminino com paralisia cerebral, amputados, cadeirantes e pessoas com deficiência intelectual. As competições são divididas entre mesatenistas andantes e cadeirantes, com jogos individuais, em duplas ou por equipes. A modalidade segue praticamente os mesmos princípios do torneio olímpico. O atleta deve lançar a bola com a raquete, por cima da rede, na área da mesa do adversário, somando pontos quando o oponente não conseguir devolvê-la. As partidas consistem em uma melhor de cinco sets, sendo que cada um deles é disputado até que um dos jogadores atinja 11 pontos. Em caso de empate em 10 a 10, vence quem abrir dois pontos de vantagem. Existem poucas diferenças nas regras, como na hora do saque para a categoria cadeirante. Os atletas cadeirantes devem fazer com que a bola ultrapasse a linha de fundo do adversário. Se a bola sair pela lateral, o saque deve ser repetido. É permitido jogar com órteses, próteses e muletas, e até usar um tênis mais alto que o outro, para compensar a diferença de comprimento das pernas. Pode-se também usar uma faixa ou bandagem para fixar a raquete na mão.
Classificação: Os atletas são divididos em onze classes, com base em seu alcance de movimentos, força muscular, restrições locomotoras, equilíbrio na cadeira de rodas e habilidade para segurar a raquete. Quanto maior o número da classe, menor é o comprometimento físico-motor do atleta.
• TT1, TT2, TT3, TT4 e TT5: Atletas cadeirantes
• TT6, TT7, TT8, TT9 e TT10: Atletas andantes
• TT11: Atletas andantes com deficiência intelectual