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Remo ParaLímpico

A história do remo paralímpico no Brasil tem início na década de 1980, no Rio de Janeiro. A Superintendência de Desportos do Rio de Janeiro (SUDERJ), sob a direção dos profissionais Celby Rodrigues Vieira dos Santos e Dalva Alves dos Santos Filha, implanta o “Projeto Remo Paralímpico – uma nova perspectiva para a pessoa com deficiência física”, no Estádio de Remo da Lagoa.

Entre os objetivos estavam, além da reabilitação e o lazer, a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento desportivo buscando a descoberta de talentos para a modalidade. Inicialmente voltado a pessoas com lesão medular, pólio e paralisia, mais tarde também teve adeptos com deficiência auditiva e intelectual.

Um marco importante foi a apresentação do atleta carioca Claudionor Francisco dos Santos numa regata oficial na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Já na década de 1990, no XV Campeonato Brasileiro de Canoagem, a Associação Ecológica de Canoagem e Vela de Belém e os técnicos Evaldo Malato e Carlos Alberto Gonçalves promovem a primeira participação de pessoas com deficiência em competições no país.

José Paulo Sabadini de Lima, responsável pelo Departamento de Remo e Canoagem do Esporte Clube Pinheiros, na cidade de São Paulo, e um dos coordenadores do Remo Paralímpico nas Paralimpíadas de Londres 2012, conta que uma das primeiras iniciativas voltadas à modalidade foi o projeto do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), que proporcionava a vivência de esportes adaptados a jovens com síndrome de down, entre os anos de 1999 e 2003.

Diante do panorama mundial do remo paralímpico – a modalidade foi aceita no programa dos Jogos Paralímpicos em 2005 – o esporte ganhou força no Brasil. A Confederação Brasileira de Remo reativou o Departamento de Remo Paralímpico. A aula inaugural acontece no Estádio de Remo da Lagoa, no Rio de Janeiro, e reúne cerca de 40 jovens com paralisia cerebral, deficiência física e síndrome de down.

Em São Paulo, um ano depois, o Esporte Clube Pinheiros (ECP) iniciou um projeto de remo paralímpico por incentivo de José Paulo. “Falei para o diretor do clube que a primeira medalha do remo paralímpico numa competição internacional seria do Pinheiros. Ele topou e começamos os trabalhos em 2006”.

Formado em Educação Física e ex-atleta amador de remo, Lima já havia se envolvido com o remo paralímpico anteriormente, em 2004, por intermediar a inclusão de um jovem com síndrome de down – irmão de um amigo que havia participado do projeto do CEPEUSP – e auxiliá-lo numa turma de adolescentes sem deficiência que treinava na Raia da USP.

A promessa da conquista da medalha foi cumprida. Em 2007, a paulistana Cláudia Cícero, atleta do ECP, conquistou a primeira medalha brasileira do remo paralímpico em uma competição internacional. Ela ganhou o ouro no Campeonato Mundial da modalidade, realizado na Alemanha. Antes, em 2004, a participação brasileira no Mundial do Remo na Espanha alcançou o 5º lugar, conquistado pelo atleta Moacir Rauber, de Santa Catarina, na categoria Skiff Masculino.

Foi por insistência de Sabadini que Cláudia começou a praticar o remo paralímpico. “Hoje falo que não vivo sem o remo, mas ainda me lembro do primeiro convite do José Paulo: eu agradeci, fiz o teste no barco, mas não gostei muito de início”, conta. Atropelada em 2000, Cláudia Cícero precisou amputar a perna direita por completo e foi no período de reabilitação que conheceu o esporte paralímpico.

Cinco anos depois já competia nas provas de natação, e foi em um dos campeonatos que o atual técnico fez o convite para o remo, explicando que estava começando a implantar a modalidade e que ela tinha o perfil para a prática desse esporte.

Foi preciso, no entanto, um segundo convite. Era comecinho de 2007 e José Paulo ligou para Cláudia dizendo que haveria um Campeonato Mundial de Remo, em Munique, na Alemanha, e seria uma grande oportunidade, uma vez que ela já era atleta. “O sonho de todo atleta é entrar na seleção, e na natação seria difícil, em razão da alta competitividade da modalidade. Tive oito meses para me preparar, tirei meu passaporte e fui com a cara e coragem para minha primeira regata. Não sabia o idioma e segui a recomendação do técnico: prestei muita atenção na largada. Alinhei e remei muito. Só soube que tinha feito o melhor tempo quando vi meu rosto no telão”. Na volta ao Brasil, a paulistana trazia na bagagem a medalha de ouro na modalidade Skiff Feminino.

Muitos outros títulos foram conquistados pela atleta e a medalha paralímpica em Londres 2012 não veio “por um bico de barco”, conta Cláudia. Por menos de um segundo, Cláudia ficou em 4º lugar. No último mundial, em 2015 na França, mais um 4º lugar, mas ela ainda está na disputa de uma vaga para os Jogos Paralímpicos Rio 2016.

Na avaliação da atleta ainda falta divulgação ao remo paralímpico, embora a modalidade tenha conquistado novos adeptos. O número de remadores aumentou, mas no feminino é mais difícil. No Brasil, só eu estou na minha categoria”. Nas Paralimpíadas de Londres 2012, além de Cláudia, três atletas de São Paulo foram convocados – Jairo Klug, Luciano Luno e Regiane Nunes.

Além do ECP, que atualmente possui 16 remadores treinando por meio do projeto Atletas do Futuro, desde 2008 o Clube de Regatas Bandeirantes oferece a modalidade gratuitamente por meio da Equipe “Eu Vivo Remando” e “Programa Clube Escolar Paralímpico”. No começo, como em outras modalidades em fase de implantação, o início foi na base do improviso. Sabadini conta que os barcos eram mais pesados, a cadeira foi adaptada para garantir mais estabilidade e um cano de PVC chegou a cumprir o papel do flutuador. Hoje os atletas brasileiros da seleção permanente de remo têm à disposição os melhores equipamentos e uma infraestrutura que permite que sejam referência na América Latina.

O Remo no Mundo

Na década de 1970, o remo paralímpico foi praticado em vários países, como Austrália, Alemanha, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Mas o primeiro evento de exibição aconteceu em 1993, durante o Campeonato Mundial de Remo, organizado pela Federação Internacional de Remo (FISA). Em 2002 a Espanha realizou o primeiro campeonato mundial da modalidade, com a participação de sete países. Dois anos depois, no segundo mundial, 24 nações já eram representadas. A adesão foi resultado da assinatura do Protocolo de Remo Paralímpico por 36 federações nacionais (Brasil inclusive), que se comprometeram a desenvolver projetos para remadores com deficiência. Cumpriam-se, assim, as exigências para a entrada da modalidade nos Jogos Paralímpicos. O pedido de inclusão da modalidade feito em 2001, pela FISA, foi aceito em 2005, e o Remo Paralímpico fez sua estreia nos Jogos de Pequim 2008.

O Brasil em Paralimpíadas

Logo na primeira edição, em Pequim 2008, o Brasil conquistou a medalha de bronze, com Josiane Lima e Elton Santana, na modalidade Double Skiff Misto, classe TA.

Curiosidade Paralímpica

Assim como acontece no atletismo, o timoneiro, que também desempenha a função de guia, não precisa ser uma pessoa com deficiência.

Ficha técnica

Descritivo: No remo paralímpico, o esporte continua o mesmo: o atleta tem a função de impulsionar o barco e apenas o equipamento é adaptado para assegurar maior segurança, conforme o tipo de deficiência do praticante. O barco possui assentos fixos ou com encosto e pode haver apoios laterais para garantir maior estabilidade às embarcações. Os atletas, divididos em três classes, devem remar 1000 metros em um percurso pré-determinado, em linha reta. As disputas são realizadas no single skiff (um atleta), double skiff (dois atletas) ou four skiff com timoneiro (quatro atletas). Vence quem cruzar primeiro a linha de chegada.

Classificação: A divisão dos atletas em três classes é realizada de acordo com o tipo de deficiência e com o membro utilizado para a propulsão.

•   Classe A1+ (somente braços) utiliza banco fixo e com encosto. O barco é o single skiff com tripulação masculina ou feminina. Participam atletas com paralisia cerebral (CP4), com prejuízo neurológico (equivalente a uma lesão completa na medula, no nível T 10), perda de função motora no tronco e pernas, e, caso apresente perda motora nos membros superiores, poderá utilizar equipamentos para adaptações à prática da modalidade.

•   Classe TA 2x (tronco e braços), os bancos são fixos e oferecem suporte complementar. O barco utilizado é o double skiff, com tripulação mista: um homem e uma mulher. Participam atletas com amputações nos membros inferiores que impossibilitem a utilização do acento deslizante, paralisia cerebral (CP5) com prejuízo neurológico (equivalente a uma lesão completa na medula, no nível L4).

•              Classe LTA (pernas, tronco e braços) usa acento deslizante no barco four skiff, com timoneiro e tripulação mista: dois homens e duas mulheres. Participam atletas com 10% da visão (B1, B2 e B3), sendo obrigatório o uso de venda e não podendo compor a mesma tripulação dois atletas B3; praticantes com amputação (um único pé ou três dedos da mão que permitam ao atleta a utilização de acento deslizante); atletas com paralisia cerebral (CP8); com prejuízo neurológico (mínima perda motora, como flexão e extensão do tornozelo, punho ou ombro); e com prejuízo intelectual (no caso de eventos não qualificatórios para jogos paralímpicos)