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Natação

Natação

Segunda modalidade com maior número de medalhas conquistadas pelo Brasil em paralimpíadas, a natação mundial tem no paulista, natural de Campinas e morador de Bragança Paulista, Daniel Dias, seu maior representante. Responsável por 15 medalhas paralímpicas, sendo 10 de ouro, e vencedor por três vezes do Prêmio Laureus – o “Oscar do Esporte” – na categoria atleta com deficiência (2009, 2013 e 2016); o nadador descobriu o paradesporto ao assistir pela TV o nadador potiguar Clodoaldo Silva nas Paralimpíadas de Atenas 2004.

Na época, Clodoaldo tornou-se o grande nome do esporte paralímpico brasileiro pela conquista de seis medalhas de ouro e quebra de quatro recordes. Ainda em 2004, o pai, Paulo Dias, conheceu a Associação Desportiva para Deficientes (ADD) por meio da palestra do professor Steven Dubner, um dos fundadores da instituição. No projeto de iniciação esportiva da ADD, Daniel teve seu potencial esportivo descoberto. “Lembro-me com carinho do primeiro dia, quando a professora Márcia Greguol me perguntou se eu sabia nadar, eu respondi que não me afogaria, mas não sabia nada de natação”.

Foram poucas aulas até a coordenadora da natação da época, a professora Márcia Greguol, identificar que se tratava de um nadador nato e o indicasse para um clube de alto rendimento na modalidade – o Centro para Integração Esportiva do Deficiente Físico (CIEDEF), atualmente Associação para Integração Esportiva do Deficiente Físico.

Ao lado de nadadores revelados pelo CIEDEF, como Joon Sok Seo (medalhista nos Jogos de Sidney 2000, Atenas 2004 e Pequim 2008), Daniel trilhou rapidamente o caminho da vitória. “Descobri que poderia ir mais longe numa competição oficial do Comitê Paralímpico Brasileiro, em Belo Horizonte, quando conquistei medalhas de prata e bronze”. Já em seu primeiro Mundial de Natação, em 2006, trouxe de Durban, na África do Sul, três medalhas de ouro e quatro de prata.

Desde então, não parou de brilhar nas piscinas, com um currículo esportivo que tem entre tantos títulos, 10 recordes mundiais em piscina olímpica e 10 medalhas de ouro, 4 de prata e 1 de bronze em duas participações em Jogos Paralímpicos (2008 e 2012).

Mas se hoje a natação paralímpica brasileira tem ídolos como Daniel Dias, duas professoras de Educação Física são referências para uma geração de nadadores paulistas: Edna Garcez e Elisabeth de Mattos.

“Fui ser técnica de natação do Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP) por incentivo de uma paciente da AACD. Pretinha, como era conhecida, foi um exemplo de garra e nadava no CPSP. Ela iria participar de uma competição e queria se preparar. Insistiu tanto que aceitei treiná-la”, lembra Edna, supervisora de esporte adaptado da AACD, instituição em que trabalha há 32 anos.

O ano era 1984 e ela foi a primeira instrutora de natação do clube. Até então, os atletas utilizavam a piscina do Centro Olímpico para sua preparação, mas sem muito suporte ou rotina esportiva, de forma muito improvisada.

No período em que foi técnica do CPSP, até por volta de 1987, Edna acompanhou os atletas em competições pelo Brasil. “Não vou me recordar do nome da competição, mas era 1986, e fomos com dois ônibus de atletas cadeirantes da natação e atletismo para um campeonato regional em Vitória (ES). Também chegamos a ir para o Mato Grosso de ônibus. Horas e horas de viagem. De São Paulo, éramos praticamente os únicos”.

Depois de sua saída do CPSP, Edna, juntamente com Lia Likier Steinberg, Flavia Likier Steinberg, Aguinaldo Silva Garcez, Eduardo Impero Grillo, Jacob Steinberg e Sergio Hagop Boudakian fundam o CIEDEF em 1991, embora as atividades tenham iniciado a partir de 1988, com o apoio da Escola Takeda, que cedia a piscina às sextas-feiras para os encontros.

Nos anos 1990 e 2000, o CIEDEF foi o grande nome na natação paralímpica no estado de São Paulo, chegando a ter o maior número de nadadores – algo em torno de 80 atletas. “Foi um nome muito forte e fizemos um trabalho de base muito significativo com crianças e adultos. Além da atuação com atletas para competições oficiais, também atendíamos pessoas com paralisia cerebral grave que não encontravam espaço em outros projetos do esporte. Eles não tinham perspectivas para atuação no alto rendimento, mas fazíamos questão de atender”, conta Edna. O ano de 2007 foi uma época de destaque, com a participação de quatro atletas no Parapan Americano do Rio de Janeiro – Joon Sok Seo, Vagner Pires, Daniel Dias e Isidoro Mazotini.

Já Beth Mattos, como é mais conhecida no movimento paralímpico, foi a responsável pelo caráter competitivo de alto rendimento da natação. A pedido de um ex-paciente da terapia ocupacional, Fábio Ricci (in memoriam), ela foi responsável por sua preparação para os Jogos de Seul 1988. “Conhecia o Fábio da época em que ele foi meu paciente em terapia ocupacional, em decorrência de um acidente que o deixara tetraplégico.

Anos depois, como atleta do CPSP, ele estava se preparando para as Paralimpíadas de Seul e me pediu que o ajudasse com seu treinamento. Seu objetivo era trazer uma medalha na natação para o Brasil. Desenvolvi um treino específico para ele, voltado para o alto rendimento”, lembra a professora doutora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, que também atuou como técnica de natação do CPSP.

Tanto o envolvimento de Edna Garcez como o de Elisabeth de Mattos no movimento paralímpico foram além do período em que atuaram diretamente com os atletas da natação. Ambas assumiram diretorias na extinta Associação Brasileira de Desporte em Cadeira de Rodas (ABRADECAR) – Edna foi tesoureira em 1988 e Beth diretora de natação da entidade nos anos 1990. Beth também foi a primeira diretora de classificação funcional do CPB, de 1995 a 2001.

A Natação no Mundo

A modalidade faz parte do programa oficial desde os primeiros Jogos Paralímpicos, em Roma 1960, quando apenas atletas com lesão medular competiam. Com o passar dos tempos, o esporte foi se estendendo a outras categorias de deficiências, tanto físicas quanto visuais e intelectuais. Atualmente é um dos esportes paralímpicos com maior número de participantes.

A entidade que controla a natação paralímpica é o Comitê Paralímpico Internacional (IPC), com atribuições semelhantes à Federação Internacional de Natação (FINA). Coordena as principais entidades esportivas internacionais que estabelecem as adaptações específicas para seus atletas: CP-ISRA (atletas com paralisia cerebral), IBSA (atletas com deficiência visual), INAS-FID (atletas com deficiência intelectual), IWAS (cadeirantes e amputados).

O Brasil em Paralimpíadas

A natação é a segunda modalidade que mais trouxe medalhas em Jogos Paralímpicos, atrás somente do atletismo (109 medalhas). Ao todo, são 104 medalhas, sendo 31 de ouro, 39 de prata e 34 de bronze. Foi em Stoke Mandeville, 1984, que a natação brasileira fez sua estreia no pódio, com um ouro, cinco pratas e um bronze.

Anos mais tarde, em Atenas 2004, Clodoaldo Silva conquistou seis das sete medalhas de ouro da modalidade. Nas duas últimas edições, Pequim 2008 e Londres 2012, o paulista Daniel Dias foi o grande destaque, sendo responsável por 15 medalhas: 10 de ouro, 4 de prata e 1 de bronze.

Curiosidade

A classificação do revezamento é feita de acordo com a deficiência de cada atleta da equipe. Cada classe tem uma pontuação, e, somadas, não podem ultrapassar o estipulado para a prova.

FICHA TÉCNICA

Descritivo: Na natação, competem atletas com diversos tipos de deficiência (física, visual e intelectual) nos quatro estilos: livre, costas, medley e peito. As provas são divididas na categoria masculino e feminino, seguindo as regras do IPC Swimming, órgão responsável pela natação no Comitê Paralímpico Internacional (IPC). Há algumas adaptações nas regras da Federação Internacional de Natação (FINA) para as disputas paralímpicas. Elas são feitas nas largadas, viradas e chegadas.

Na largada, por exemplo, dependendo da deficiência, os atletas podem largar de dentro da água, sentados, ou ao lado do bloco de partida. Os nadadores com deficiência visual recebem o aviso do tapper – pessoa que usa um bastão com ponta de espuma – quando estão se aproximando das bordas para o momento da virada e da chegada, e usam óculos opacos, para assegurar a igualdade de condições na prova. Para atletas amputados, não são permitidos recursos como órteses e próteses. O atleta deve utilizar apenas o seu próprio corpo para a competição.

Classificação: O atleta é submetido à equipe de classificação, que procederá a análise de resíduos musculares por meio de testes de força muscular, mobilidade articular e testes motores (realizados dentro da água). Como em outras modalidades, segue a regra de que, quanto maior a deficiência, menor o número da classe – todas começando pela letra S (swimming). O nadador pode ter classificações diferentes para nado peito (SB) e o medley (SM).

•   S1 a S10 / SB1 a SB9 / SM1 a SM10: Atletas com limitações físico-motoras

•   S11, SB11, SM11, S12, SB12, SM12, S13, SB13, SM13: Atletas com deficiência visual (classificação segue como a do judô e do futebol de 5)

•  S14, SB14, SM14: Atletas com deficiência intelectual