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Paracanoagem

Paracanoagem

A modalidade que ganhou visibilidade nacional com o ouro do paulistano Fernando Fernandes no Campeonato Mundial de Canoagem, em Poznan (Polônia), em agosto de 2010 – feito realizado apenas um ano após o acidente que o deixou paraplégico – já era desenvolvida no Brasil desde o final dos anos 1990.

O primeiro marco histórico da modalidade no Brasil foi a participação da Associação Ecológica de Canoagem e Vela, de Belém (Pará), no XV Campeonato Brasileiro de Canoagem, realizado em outubro de 1999. Os professores Evaldo Malato e Carlos Alberto Gonçalves foram os responsáveis pela primeira equipe de pessoas com deficiência a participar de um evento de canoagem. Porém, antes, em 26 de março de 1995, a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) já havia criado o Comitê Nacional de Paracanoagem.

Em maio de 2000, em Caxias do Sul (RS), o Centro Integrado do Portador de Deficiência Física (CIDeF) formou uma equipe de paracanoagem aproveitando os atletas que participavam dos treinos de basquetebol em cadeira de rodas. Formou-se, assim, o primeiro grupo organizado da modalidade que recebia atendimento específico.

Em São Vicente (SP), alguns anos depois, por volta de 2002/2003, Carlos Roberto Tavares da Conceição, o “Bebeto”, era convidado pelo técnico de canoagem Pedro Sena a conhecer a modalidade. Aceito o convite, Bebeto, que 10 anos antes sofreu amputação bilateral acima do joelho após um acidente de trem, tornava-se o primeiro atleta paulista a praticar a paracanoagem. “Na época éramos eu e mais dois atletas de outros estados que participávamos no Campeonato Brasileiro de Canoagem, não havia categorias para atletas com deficiência e fazíamos as adaptações necessárias”.

Desde então não parou mais, chegando a participar do evento-teste organizado pela Federação Internacional de Canoagem, durante o Mundial do Canadá, em 2009. “Foi o primeiro evento da paracanoagem e nele foram feitas as primeiras classificações dos atletas”, recorda-se. Até hoje participa de competições e já atuou, inclusive, como monitor voluntário de atletas sem deficiência num projeto que havia em São Vicente.

Anos depois, o esporte ganhou mais participantes e surgiram novas iniciativas e projetos voltados para paracanoagem no estado de São Paulo, como os desenvolvidos na Raia da Universidade de São Paulo (USP) e nas cidades de Piraju, Jundiaí e Santos. Com a inauguração, em abril de 2014, do Centro de Treinamento de Paracanoagem, localizado no Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), o estado tornou-se um polo de desenvolvimento do esporte.

O projeto, realizado com investimento via Lei de Incentivo ao Esporte, tem foco no alto rendimento e oferece a até 12 atletas infraestrutura de ponta e acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, além de outros benefícios como hospedagem e apoio para estudos e participação em competições oficiais. “Com este centro de treinamento, São Paulo posiciona-se como uma referência na paracanoagem. E todo este conhecimento gerado é disseminado a atletas, técnicos e gestores de todo o país por meio das clínicas que realizamos”, destaca o supervisor do Centro de Treinamento de Paracanoagem, professor Carlos Bezerra de Albuquerque.

Na avaliação do professor, a modalidade tem um grande potencial de crescimento. “A paracanoagem proporciona uma sensação de liberdade muito grande. O atleta rema de forma igualitária a quem não tem deficiência e as adaptações são mínimas e feitas em função do tipo de lesões, como um banco diferente para dar mais estabilidade ou um velcro para o tronco”. Atualmente participam do Campeonato Brasileiro de Paracanoagem 80 atletas, sendo cerca de 50 deles do estado de São Paulo.

A repercussão midiática dos títulos de Fernando Fernandes contribui para este movimento crescente de praticantes. Atualmente ele é tetracampeão mundial na paracanoagem. Atletas de outros estados, como a baiana Marta Ferreira – ouro e prata no mundial de 2010 – também atraem a atenção para o esporte.

Outro atleta que vem ganhando destaque é Luis Carlos Cardoso, primeiro do ranking mundial ao conquistar em 2015 o ouro no Mundial realizado em Milão. Ele conheceu a modalidade ainda no período de reabilitação por intermédio do ex-atleta de canoagem, Sebastian Cuattrin, atualmente gerente geral da canoagem Olímpica e Paralímpica dos Jogos Rio 2016. “Comecei na paracanoagem sem pensar em competição e fui pegando o gosto. Mas no meu primeiro Campeonato Brasileiro, em 2011, senti o clima de uma competição e dei o meu melhor. Saí de lá com o bronze no caiaque 200m, a prata na canoa V1 200m e a classificação para o Panamericano”, conta o atleta, que compete pelo Time São Paulo, uma parceria entre o governo de São Paulo e o Comitê Paralímpico Brasileiro.

Luis, que teve os movimentos comprometidos devido à instalação de um parasita em sua medula, em 2009, é uma das promessas para os Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Para participar dos jogos precisou se reinventar, uma vez que sua prova (canoa) não estaria na programação, e fez isto muito bem ao conquistar o título no último mundial.

A Paracanoagem no Mundo

Com estreia nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, a paracanoagem é um esporte novo, que se desenvolveu graças a esforços de entidades que pressionaram para que a modalidade fizesse parte de eventos da canoagem convencional.

Em 2009, a Federação Internacional de Canoagem organizou o primeiro evento de exibição da paracanoagem, que foi um grande sucesso. Um ano depois, em Poznan, na Polônia, foi disputado o primeiro mundial da modalidade. No mesmo ano, em reunião do Comitê Paralímpico Internacional em Guangzhou, na China, foi decidida a inclusão da paracanoagem à programação dos Jogos Paralímpicos.

Ainda novidade em alguns países, a paracanoagem tem seu grande desenvolvimento no Canadá, onde ocorre a realização de eventos para paracanoístas a partir dos 15 anos de idade.

O Brasil em Paralimpíadas

A paracanoagem estreará nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Em mundiais, o Brasil conquistou ouro no primeiro evento da modalidade – o Mundial de Poznan, em 2010, com Fernando Fernandes e Marta Ferreira. Marta ainda levou uma prata no mesmo evento. No histórico dos mundiais, destaque para o paulista Fernando Fernandes, tetracampeão mundial.

Curiosidade Paralímpica

Embora a modalidade seja praticada em dois tipos principais de barcos – os caiaques (K) e as canoas (V), apenas a prova masculina e feminina de caiaques estará nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016. A Confederação Internacional de Canoagem está atualmente trabalhando numa proposta que será apresentada ao Comitê Paralímpico Internacional para incluir os eventos com canoas ao programa das Paralimpíadas de Tóquio 2020.

FICHA TÉCNICA

Descritivo: O esporte é exatamente como a canoagem olímpica, permitindo que as pessoas com deficiências físicas possam praticar a partir de adaptações para segurança ou melhora do rendimento. A bordo de caiaques, os atletas devem completar, no menor tempo possível, um trajeto de 200m em linha reta e em águas calmas. Os dois principais tipos de barcos da paracanoagem são os caiaques (K), impulsionados por um remo com duas pás nas extremidades, e as canoas (Va’as), movidas por uma pá de lâmina única.

Classificação: O atleta soma pontos no sistema de classificação de acordo com o seu potencial de movimentação de pernas e de tronco, e a partir de uma avaliação na água durante a remada. Quanto maior for a pontuação, menor será a limitação dos atletas, que são divididos em três classes:

- KL1 (soma de 3 pontos): Atletas com nenhuma ou muito limitada função de tronco e nenhuma função de perna. Geralmente precisam de um assento especial com encosto alto no caiaque.

- KL2 (de 4 a 7 pontos): Atletas com controle parcial dos movimentos do tronco e função de perna, sendo capazes de se sentar eretos no caiaque. Podem precisar de um encosto especial, o movimento das pernas é limitado durante o remar.

- KL3 (8 a 9 pontos): Atletas com controle parcial dos movimentos do tronco e perna parcial, capazes de se sentar com o tronco na posição para a frente, flexionados no caiaque, e capazes de usar pelo menos uma perna ou prótese.

*em eventos não paralímpicos, os atletas que participam de provas com canoas (Va’as), são divididos nas classes VL1, VL2 e VL3, seguindo o mesmo sistema de classificação.