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Tênis em Cadeira de Rodas

Tênis EM CADEIRA DE RODAS

Sérgio Gatto, paulistano, já era professor de tênis quando ficou paraplégico em 1990, vítima de um tiro. Apesar do histórico de tenista, Gatto, migrou para o basquetebol em cadeira de rodas, que praticou entre 1990 e 1993. Nesse ano, retornou ao tênis, mais especificamente ao tênis em cadeira de rodas, e começou não só a jogar, como a organizar os primeiros passos da modalidade em terras paulistas. Nesses primórdios, teve a companhia de outro desbravador, Cesar Gabech, seu parceiro nas quadras. “Éramos só nós dois, eu treinava durante a semana em uma academia e o Cesar em outra. Jogávamos com andantes mesmo, essa é uma grande vantagem da modalidade, é possível praticar jogando com pessoas sem deficiência alguma. Eu combinava de encontrar o Gabech nos fins de semana e aí jogávamos um contra o outro”, conta Gatto.

Os dois também eram figuras constantes nos torneios organizados por José Carlos Morais, precursor do tênis em cadeira de rodas no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro. Mas foi em 1998, quando a CBTênis criou o departamento exclusivo para o tênis em cadeira de rodas que Gatto entrou com tudo nesse universo, tendo ficado à frente do departamento entre 1998 e 2004. “Foi nesse período, com uma estrutura mais organizada e a entrada de dinheiro, por meio de projetos, patrocínios e da Lei Agnelo/Piva que o circuito nacional começou a crescer e a gente pôde vivenciar um boom na modalidade”.

Quem começou a vivenciar essa realidade a partir de 1999, foi Maurício Pommê. Hoje com 45 anos, Pommê começou a praticar tênis com 10 anos de idade, incentivado pelo pai. Aos 16 já era primeira classe e dava aulas para reforçar o orçamento familiar. Logo depois conheceu Eduardo Eche, então técnico de vários juvenis promissores, como Ricardo Hocevar e Sumara Passos e, juntos, formaram a Academia Eche Pommê de Tênis. E foi justamente para tentar consertar o telhado de uma quadra coberta na academia que Pommê ficou paraplégico, em 1997. “Subi para ajudar o rapaz a consertar uma telha e ela cedeu, caí de uma altura de 13 metros, não sei como sobrevivi”, conta. Depois de passar mais de dois meses no hospital, Pommê retomou suas atividades como empresário. O tênis em cadeira de rodas, porém, viria a fazer parte da sua vida somente no final de 1999. “Não conhecia, nunca tinha ouvido falar. Foram dois amigos, o Sérgio Gatto e o Cesar Gabech, que trouxeram a novidade para mim”. Em dezembro daquele ano, Pommê participou de seu primeiro campeonato, no Clube Pinheiros, em São Paulo. “Mas vou ser sincero, não me empolguei muito não”, diz. No ano seguinte, em maio, outro torneio, agora no Rio. Alcançou as semifinais, depois de derrotar o segundo cabeça de chave na segunda rodada. O resultado levou a um convite, representar o Brasil no Mundial da categoria, em julho daquele ano, em Paris. “Ali, convivendo com os melhores atletas do mundo é que pude perceber a dimensão do jogo.

Desde então não parei mais de competir”. Pommê foi o primeiro brasileiro a representar o país numa paralimpíada, Atenas 2004, tendo conseguido seu lugar por critérios técnicos. “Tem que ter uma boa colocação no ranking mundial para entrar na chave principal de uma paralimpíada, os outros ficam na expectativa de um convite”, explica. O convite foi dado a Carlos Santos, o Jordan, outro ícone da modalidade. Apesar de não terem conseguido bons resultados nas paralimpíadas, foram campeões mundiais em 2006 (chave B) e juntos conquistaram o ouro no Parapan do Rio 2007 e bronze em Guadalajara 2011, em duplas. “Além desses títulos, fui cinco vezes campeão brasileiro, participei das paralimpíadas de Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012, e consegui entrada na chave principal por critérios técnicos em todas elas. Defendo o Brasil no mundial da categoria desde 2000, fiquei três anos sem perder uma partida, viajei, conheci o mundo.

Representar o Brasil nas paralimpíadas e nos mundiais foi algo inesquecível, fantástico. Ou seja, Deus fecha uma porta, mas abre outras. É como se ele falasse, “olha, estou te dando uma segunda chance, vamos ver do que você é capaz”. Hoje o tênis em cadeira de rodas é parte da minha vida”, completa Pommê. Ele é atualmente o 66° colocado no ranking mundial da modalidade e vem participando de torneios pela América do Sul, para garantir sua vaga no Rio por critérios técnicos mais uma vez. São os primeiros setenta classificados do ranking que entram direto na chave da paralimpíada, mas com um número máximo de quatro atletas por país, o que praticamente garante Pommê no Rio. “Sou o quarto brasileiro melhor colocado no momento, mas não quero perder a vaga de jeito algum, por isso tenho viajado bastante, disputando torneios da ITF. Quero estar lá, para mim, estar no Rio já será uma vitória. Acredito serem pequenas as chances de medalha, talvez nas duplas, dependendo da chave da competição”. Pommê também desenvolve projetos para quem está começando na modalidade, ligado à sua ONG, a VAMOAÊ. “Procuramos dar condições de desenvolvimento para quem se interessa pelo tênis em cadeira de rodas, oferecendo equipamento e quadras para a prática”. Outros projetos dessa natureza estão sendo desenvolvidos no Estado, especialmente na capital, grande ABC e na Baixada Santista. Destaque para o projeto que está acontecendo no Clube Espéria, com verba destinada à Confederação Brasileira de Clubes (CBC) e que conta com Sérgio Gatto como um de seus instrutores. “Existem mecanismos sendo criados por intermédio de lei e que ajudam a desenvolver o paradesporto no Brasil e em São Paulo”, explica Gatto. No Espéria, são 25 atletas, desde crianças até adultos, que jogam às quartas, sextas e sábados. Com certeza novos talentos surgirão dessa e de outras iniciativas. “Hoje em dia o tênis em cadeira de rodas se desenvolveu muito, é um jogo dinâmico, rápido mesmo, com batidas fortes dos dois lados, cada vez se aproxima mais do tênis convencional. Já vi gente sacando a 175 Km/hora, sentado em uma cadeira. É um caminho muito interessante para quem quer se desenvolver em diversos aspectos”, finaliza Gatto.

HISTÓRIA DA MODALIDADE NO MUNDO

O tênis em cadeira de rodas foi criado em 1976, nos Estados Unidos, por Jeff Minnenbraker e Brad Parks. Eles construíram as primeiras cadeiras de rodas adaptadas para o jogo e o difundiram em seu país. Em 1977, foi realizado o primeiro torneio pioneiro, em Griffith Park, na Califórnia. O primeiro campeonato nacional nos EUA aconteceu em 1980. Oito anos depois, foi fundada a Federação Internacional de Tênis em Cadeira de Rodas (IWTF). Em 1988, a modalidade foi exibida nos Jogos Paralímpicos de Seul. Em 1991, a entidade foi incorporada à Federação Internacional de Tênis (ITF), que hoje é a responsável pela administração, regras e desenvolvimento do esporte pelo mundo. Barcelona 1992 foi um marco para o tênis em cadeira de rodas. Desde então, homens e mulheres disputam medalhas nas quadras, em disputas em duplas ou individuais.

HISTÓRIA DA MODALIDADE NO BRASIL

Quando José Carlos Morais – médico, carioca, então jogador da seleção brasileira de basquetebol em cadeira de rodas –, foi para os Jogos Internacionais de Stoke Mandeville, na Inglaterra, em 1985, o tênis em cadeira de rodas simplesmente inexistia no Brasil, era totalmente desconhecido. Mas isso estava para mudar. Durante o evento, o tenista norte-americano Randy Snow fez uma clínica da modalidade. Morais, que era tenista antes de ficar paraplégico em 1972, vítima de um assalto, se interessou tanto pelo esporte, que resolveu trazê-lo e difundi-lo no país. Começava assim a história do tênis em cadeira de rodas no Brasil. Junto com Francisco Reis Junior, representou pela primeira vez nossa nação nas paralimpíadas de Atlanta em 1996, ambos como convidados. A Lei Agnelo/Piva, sancionada em 2001, também trouxe benefícios para o tênis em cadeira de rodas. Na esteira da lei, projetos desenvolvidos em Goiânia (GO), Vitória (ES), Belo Horizonte (MG), Niterói (RJ) e em Brasília (DF), fizeram com que o número de praticantes crescesse em progressão geométrica. Crianças e adultos com deficiência passaram a ter acesso à modalidade. Atualmente o tênis em cadeira de rodas vive um momento muito bom, com novos projetos sendo consolidados e um calendário de torneios de dar inveja ao tênis convencional. Para 2016 estão previstos 10 torneios da ITF em terras brasileiras, propiciando oportunidades para que nossos tenistas alcancem melhores colocações no ranking mundial. Outro dado impressionante é o número de participantes do Brasil nos rankings da ITF. São 40 homens e 12 mulheres com pontuação, com destaque para Daniel Rodrigues, de Minas Gerais, no masculino, e Natalia Mayara, de Brasília, no feminino. Ambos estão no chamado Top 20, ou seja, entre os 20 melhores tenistas do planeta. Vale reforçar que tanto Rodrigues, como Mayara, nasceram e cresceram como atletas de alto rendimento, fruto dos projetos desenvolvidos pelo país, especialmente depois de 2000.

BRASILEIROS MAIS BEM COLOCADOS NO RANKING DA ITF

FEMININO – Natalia Mayara; Rejane Candida; Meirycoll Duval; Aline Cabral

MASCULINO – Daniel Rodrigues; Carlos Santos; Rafael Medeiros; Maurício Pommê

 

O Brasil em Paralimpíadas

Quartas-de-final em Londres 2012, nas duplas com Maurício Pommê e Carlos Jordan

FICHA TÉCNICA

Classificação: O único requisito para que uma pessoa possa competir no tênis em cadeira de rodas é ter sido diagnosticada com uma deficiência relacionada à locomoção, em outras palavras, deve ter total ou substancial perda funcional de uma ou mais partes extremas do corpo. Se como resultado dessa limitação funcional a pessoa for incapaz de participar de competições de tênis convencionais (para pessoas sem deficiência física), deslocando-se na quadra com velocidade adequada, estará credenciada para participar dos torneios de tênis para cadeirantes. Existe ainda a categoria QUAD, quando o tenista apresenta, no mínimo, três membros afetados. Com relação à regra, a única diferença para o tênis convencional é que no tênis em cadeira de rodas é permitido dois quiques da bola antes da rebatida.

Dimensões da quadra: Uma quadra oficial de tênis deve medir 23,77 metros de comprimento por 10,97 metros de largura paras as partidas de duplas e de 8,23 metros de largura para o jogo de simples (linhas internas). A rede deve ter altura de 1,06 metros e a área de saque onde a bola deve pingar na execução de um saque é de 6,40 metros de comprimento por 4,11 metros de largura.

Regras: O objetivo do tênis é fazer com que a bolinha passa por cima da rede e quique dentro da quadra adversária. No tênis em cadeira de rodas é permitido que a bolinha dê dois quiques antes da rebatida para o adversário.